A carta que eu nunca te escrevi..

Olá...


Não sei como te começar por escrever esta carta...Nem sei se fará algum sentido o que vou dizer...mas eu preciso te dizer tudo o que se ficou por dizer , antes que os meus dias se sucedam num absurdo completamente idiota e imensamente vazio...


Ensinaste me que a verdade nunca é exacta, que cada realidade se encerra em si, e nelas quantas as pessoas nelas envolvidas..por isso sempre preferiste a dúvida à tua própria realidade...


Talvez nisso te pareças comigo..

Mas não é para falar disso que aqui estou, escrevo te em nome de tudo aquilo que nos separa, tenho á minha frente, todas as tuas fotos e cartas que guardei religiosamente..todos os nossos momentos que se desdobram no meu olhar..e sabes?estou chorar...mas sinto me bem ao fazê-lo..sinto-me confortável e com saudades do passado...Contigo passei momentos únicos, maravilhosos, momentos que quero esquecer mas que não me deixas...noites de Verão ao relento...Tu nunca mudaste..vejo no fundo dos teus olhos..A vida ensinou-me a amar..a sentir tudo de uma maneira mais sincera...Quando dou por mim, arrependo-me de tanta coisa..
toda a nossa existência tem por condição a infidelidade a nós próprios..
o primeiro erro que cometi foi ter-me apaixonado por ti...Ainda hoje não consigo explicar o como o porquê..apaixonei-me pelo teu ar de querer parecer ser forte e capaz de mover mundos..e quando a noite caía transformavas te num ser lindo, meigo, que adoçava o meu luar...que me embalava para o meu sono de Verão..os teus beijos eram como água salgada que nunca me matavam aquela sede repleta de paixão..o teu abraço quente e protector..não via defeitos, era ingénua, era menina..
Mas o amor é mesmo assim, estúpido, irracional, desconhecido e indescutível.. Ou então talvez te tenha tornado tão real que neste momento te tornaste indispensável...esse sim foi o meu maior erro...provavelmente o mais relevante..
O segundo e deste assumo toda a culpa, foi não to ter escondido que te amava...queria-te tanto que julguei que isso te obrigaria amar-me também..como fui burra, infantil...O amor e a ingratidão nada têm a ver um com o outro, embora ambos mascarem estados de afecto,o amor não se procura, simplesmente nos chega ás mãos, e nós só amamos aquilo que nos é diferente, e tu tens essa diferença que me cativou, mas eu deveria ter aprendido a escutar os teus sinais, antes de denunciar os meus, bem menos subtis e temerários...

Quando sonhamos muito corremos o risco de deixarmos este mundo, e passamos a outra dimensão..e aquilo que sonhamos passa a ser o nosso desejo e é em função de tal que vivemos. acordamos e adormecemos...Mas onde ia eu com estas minhas palavras?ah!ia na enumeração dos meus erros...não quero que tenhas qualquer tipo de compaixão ao leres a minha voz nestas linhas extensas..lê-me apenas com atenção para que eu possa fechar este capitulo da minha vida...
O meu terceiro erro já te disse qual foi, caímos num duplo equívoco, nunca chegaste acreditar neste amor que sinto, e eu nunca acreditei que de facto me amavas como dizias...I still love you..disseste tu...num desenho rebuscado a carvão, que ainda guardo secretamente num diário meu...junto com uma foto tua...
Outro erro meu foi não reconhecer em ti aquilço que eu própria sou..e que me fez vítima de um jogador nato..Seduzes para ganhar, e jogas para vencer..podes nem sempre ganahar, porque quem seduz por vezes acaba seduzido!E esse foi outro erro, o de não ter reconhecido a tua personalidade, o desejo obcessivo, quase doentio de querer controlar todas as situações, como se a vida se levasse por uma trela e se esticasse conforme aquilo que mais te convém, ou interessa...ao contrário de ti , eu não jogo porque não sei esperar, não tenho qualquer aptidão para estratega, não respeito regras nem sigo tmepos, mas ainda cometi outro erro...o de me calar, o de não ter dito aquilo que realmente sentia e queria..posso ser pouco frontal e cheia de razões como dizes, mas não sou como tu...dúbio, secreto, lábil, manipulador, subtil no teu jogo, cauteloso nos teus passos..como se essa tua postura te impuzesse qualquer tipo de superioridade...talvez não sintas tudo á flor da pele como eu, que sou toda feita de coraçõeszinhos..eu até poderia para de chorar neste momento, mas não sou tão dura e fria como tu..tu sin, és frio, foges dos problemas como uma criança de um cão grande, sem perceberes que tudo começa e acaba em pequenos gestos de amor, carinho, amizade..cumplicidade...coisas grandiosas, como a paixão, o desejo ardente igual ao que tenho por ti, aquela voltinha no estômago quando te vejo, o querer beijar te com sofreguidão, abraçar te até te sufocar,aceitar te dentro de mim e deixar cair uma lágrima de felicidade...por não acreditar naquele momento...eu não renego este amor que tenho por ti..mas somente não aceito a intolerância com que me magoaste, a facilidade com que me condenas por um erro infantil e imaturo..a leviandade com que me renegas é inaceitável...Amo-te de uma forma desajeitada, arrebatadora e intolerável...sempre desejando que a tua vida tenha conseguido ser melhor que a minha sem ti..o melhor só tu o podes colher..Sabes, não é a dor da rejeição que me tortura, é a esperança que me deste e de seguida ma roubaste..hoje aprendi que o amor não tem voz entre duas pessoas que se chocam constantemente, duas pessoas tão iguais que não se entregam..descobri que a amizade é talvez a mais bela forma de amar, pois não necessita de promessas, nem nada carnal, não se desfaz com zangas, nem se disvirtua no tempo...

Eu rezo todas as noites a Deus pra que ele te apague de mim, mas ele todas as noites trás te aos meus sonhos e eu acordo cheia de vida e alegria..desejosa de chegar novamente a noite, para eu poder estar contigo...sonhos esses que parecem reais demais..e como eu gostaria de saber se também sonhas comigo...se o que dizes nos sonhos é uma verdade ou somente não passa de isso mesmo..um sonho..

É melhor que a palavra Adeus, seja essa e mais nenhuma,nunca saberei se ages com a cabça ou com o coração, até que ponto te entregas ou apenas jogas...até que ponto ages ou apenas observas, e foi por um dia te ter tido e conehcido que também sei que um dia te esquecerei...

Eu sempre disse para mim que as nossas diferenças iriam servir mais para nos unir que separar...mas agora sei que não...pois ao contrário de ti..

Eu não sou, não fui, nem nunca serei espectadora da minha própria vida...

Mariana Rodrigues 2004